Hoje retomo nossas conversas aqui no Culinartes depois de uma longa, porém justificada ausência. Estive às voltas com muito trabalho, organizando um evento do trabalho e outro evento pessoal. O primeiro foi um seminário para educadores sobre cultura da paz e combate ao bullying. Tive muito trabalho, pois além de organizar uma parte da logística, da programação, também proferi uma palestra. O outro evento foi o aniversário de 10 anos de minha filha, que estava empolgadíssima com a chegada dos dois dígitos. Como mãe coruja, que não abre mão de colocar a mão na massa, assumi a decoração, os doces e as lembrancinhas...ah, fiz também um patê e o molho dos mini cachorros quentes. Não foi nada grandioso, foi uma pequena comemoração em casa mesmo, com a presença dos familiares e das pessoas mais íntimas que de longa data participam da vida de minha filha.
Bem, sobre a festinha e as coisas que fiz falarei em um próximo post, quando as fotos que meu amigo Pedro tirou chegarem até mim. Assim poderei dividir com vocês esses momentos especiais, e faço questão também de falar um pouco sobre a lógica que orientou todo o trabalho de concepção e preparação dos festejos, singelos porém genuínos.
Esse post é para falar um pouco do tema de minha palestra. Idéias e concepções de vida que acredito e procuro seguir em meu cotidiano. Fiz uma abordagem sobre as dimensões da paz: o eu, o outro e a natureza, baseando-me na obra As três ecologias do francês Félix Guatarri (não sei por que amo os franceses, Pierre Bordieu é minha outra paixão).
Segundo Guatarri a crise sem precedentes que atravessamos tem destruídos as relações em diversos âmbitos - na esfera das relações que o homem desenvolve consigo mesmo, com seu corpo, com os mistérios da vida e da morte, com seus desejos e subjetividades; também está abalada no que concerne às relações entre os homens, seja no seio da família, no seio do casal, da vizinhança que representam a micropolítica, como também nas relações macropolíticas referentes às relações entre as nações do norte e do sul, entre as potências e os países subdesenvolvidos e outros; e também diz respeito às relações do homem com a natureza, o planeta, o grande cosmos.
De acordo com essa perspectiva o enfrentamento do caos requer a articulação dessas três dimensões: a paz consigo, a paz com o outro e a paz com a natureza. A teroria é muito ampla e pretendo retornar aos poucos a essas idéias, oferecendo-as como um presente em pequenas doses aos leitores aqui do blog. Por hoje, quero apenas reforçar que preparar alimentos, cozinhar, para mim é mais que o trabalho de saciar a fome. Considero que se trata de uma forma de amar as pessoas, de reuní-las em torno dos sabores que abrem não apenas o apetite, mas principalmente a vontade de estar junto, dividindo momentos e celebrando o que temos de mais precioso: a vida. É também uma maneira de estar com a natureza, ao saboear seus frutos que passam a constituir nosso corpo, aquilo que em nós nada mais é que natureza! Alimentar-se é um processo de encontro de naturezas: os frutos da natureza se encontram com a nossa natureza corpórea e então nos tornamos um.